A canonização de São Nuno mostra-nos, claramente, que esta passagem terrena é um caminho que se tem de percorrer em direcção à santificação (como nos desafia João Paulo II).
A sua vida não pode nunca ser analisada como uma soma das partes que, aparentemente, até podiam ser incompatíveis, mas sim, como um todo, como cadeia entrelaçada de acontecimentos, de passos, que dão todo o sentido ao percurso.
Destes passos, alguns merecem destaque pela linha que deixam impressa neste mapa da vida.
Num primeiro sentido, o crescimento e educação rigorosa sob a qual, Nuno cresceu.
Não se pode dizer que se limita a liberdade de uma planta prendendo-a a uma estaca; antes pelo contrário, ajudamo-la a crescer de uma forma recta, vertical e segura. É deste tipo de educação a que me refiro falando de São Nuno – uma educação norteada de valores, ideiais, de objectivos claros e que são, no fundo, estímulos, para que se possa lutar por algo em que se acredite (e ter algo em que se acredite) traçando sobre eles, metas pessoais, um acreditar, uma esperança de que se podem alcançar.
Num segundo ponto, o tomar a atitude, tomar a dianteira de fazer e não ficar à espera dos outros, ou esperar para que lado vira o vento. Mais tarde, os portugueses perceberam que não podiam esperar que virasse o vento para se lançarem na epopeia dos descobrimentos… o vento não ia virar e havia que contornar isso; criaram então a Caravela Portuguesa para navegar ‘à bolina’. Nuno, é este português que toma a iniciativa, que avança apaixonadamente porque sabe que é a hora e se ele não o fizer, mais ninguém o fará.
Finalmente, num terceiro rumo, a libertação pelo espírito. São Nuno era, de facto, ambicioso e incansável na busca de algo maior, algo mais elevado, algo que o preenchesse por completo, que o completasse. Mas depois da glória desenhada pela sua heroicidade e inteligência no campo de batalha, depois de acumular bens e terras em agradecimento pelos seus feitos e mérito dos seus actos, pouco mais restava a fazer no sistema mundano instalado. A paz, a liberdade, a independência havia-la conquistado e outros, bem mais destinados a esse fim, garantiam a sua consolidação. Mas pela observação e conhecimento obtido nas suas pelejas, viu, São Nuno, que havia algo bem mais importante por conquistar… uma outra liberdade, uma outra paz e que não estava ao alcance dos esfomeados, dos sem lar, que partilharam, ainda assim, a luta e a alegria da independência. Para estes, era necessário um outro Nuno, uma outra peleja… não de espadas… Na verdade ele é o mesmo… o mesmo que carregava em si os valores que o tinham feito crescer, o mesmo dotado do nobre sentido do serviço, o mesmo que estava sempre à frente, mas agora, num outro plano um plano superior pelo qual ele sabia ser o único, capaz de trazer a liberdade e a paz plena para Portugal… para todos.
A inteira doação aos outros, a maior prova da humildade e despojamento pessoal que é o de dar tudo, abdicar de tudo… dos bens, das terras, da envolvência social da nobreza, dos títulos, da família, do nome… e entregar-se à esmola para os outros, revela que São Nuno sentiu a revelação luminiscente da redenção… do encontro com Deus, nos outros. Tal só foi possível com uma vivência espiritual intensa e profunda. O recolhimento carmelita fê-lo dócil de coração, unido sempre em oração por intermédio de Maria a quem ele sempre recorria.
A santificação atinge-se, assim, tão facilmente, quando por amor, nos entregamos totalmente aos outros, no melhor que somos… inteiramente… sem condições, sem prazos, sem ‘mas’ nem ‘se’s… Um amor puro e gratuito… como Maria!
Marcadores: mística e simbologia, pedagogia da fé
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