"Renascer das cinzas. Cinzas de esperança. Cinzas de saudades. Cinzas de mim mesmo. Cinzas do tempos. Cinza cor das nuvens de chuva. Humor no tom cinza...
Diversas conotações e sentidos para as cinzas. Em casa, quando se fazia a queima de uma “coivara” (montículos de cana de milho, ciscos, ou galhos velhos), ali era também o lugar de plantar sementes de abóbora, moranga, mugango... coisas de lastro. Usava-se também para fazer “diquada” para usar no sabão, e economizar a soda caustica. Na sabedoria popular as cinzas eram “fortes”. E a pesquisa cientifica vem comprovar, que de fato as cinzas são fontes de potássio...
Desde o antigo testamento, terra de Canaã, escravidão no Egito, peregrinação no deserto sob a liderança de Moises, Josué e demais sucessores, que a História da Salvação nos fala de um Deus que se aproxima do povo, e de um povo que nem sempre percebe essa presença. Retratando essa indiferença, muitas vezes nos deparamos com passagens bíblicas que demonstram o arrependimento, e nas muitas vezes se referem às cinzas como sinal do desejo de mudança, e reconhecimento das fragilidades. Desde o livro de Ester, quando Mardoqueu manifesta-se em forma de protesto ao Rei Assuero pela morte do povo hebreu; Jó que se cobre de cinzas, devido a dor e o arrependimento; o Rei de Ninive que se senta sobre as cinzas, junto ao povo, depois da pregação do Profeta Jonas...
Desde a antiguidade, e nas menções da História Cristã e da Salvação, o uso de cinzas e roupas de saco traduzem a natureza rústica, finita, efêmera e frágil do Homem perante a perfeição misericordiosa de Deus. E desde o Século VI, o uso das cinzas faz parte da liturgia Quaresmal na Igreja Católica e nos chama também a um recomeço.
Portanto, temos dois fatores essenciais para a nossa reflexão neste período que antecede a Páscoa. Se partirmos da premissa da sabedoria popular e dos estudos científicos, temos nas cinzas, um elemento fortificador nos nossos desejos de justiça, de transformação social, de recomeço, podemos ser até “um pé de abobreira aproveitando uma coivara”... Podemos ficar vistosos, fortes e produzir muito! Essa pode ser uma das escolhas.
A outra, observando a nossa História Cristã, e a ação dos profetas bíblicos, pode ser ainda a exortação quanto a nossa pequenez diante da grandeza de um Deus misericordioso e justo, e daí aperfeiçoar nossas atitudes comunitárias, familiares, e sociais, corrigindo rumos, e literalmente convertendo as nossas formas de condução, se é que não estão de acordo com a vida plena oferecida pelo líder maior do Cristianismo, Jesus, o filho de Maria.
De todos os textos bíblicos, que nos lembram esse rito da Igreja Católica, tenho comigo, que o mais lindo é do livro do Profeta Joel, que além de nos ensinar, chama a atenção para a mudança de dentro pra fora... “Rasgai os vossos corações e não as roupas ,retornai ao Senhor vosso Deus, porque ele é bondoso e misericordioso, lento na cólera e cheio de amor, e se compadece da desgraça..."»