Ousar mais - um ensaio [parte 1]


Não há dúvida que prolifera por todo o lado a dinamização de actividades de ar livre. Os trilhos pedestres permitiram o reencontro das pessoas com a montanha ou com a floresta; o rafting, a canoagem, a convivência com os rios e ribeiros. Os parques de campismo são cada vez mais invadidos por tendas, não dos tradicionais campistas, não dos festivaleiros, mas de outros que vêem uma forma (para além de económica) de conhecer outros locais. Muitos, que aderiram romantismo bucólico do campo já nem se contentam com os parques da cidade e procuram o ar puro de outras formas. Nunca, aqueles caminhos, que outrora eram percorridos pelos habitantes dessas terras, baptizados por eles em função das suas vivências, místicas ou tradições locais, foram tão concorridos por outros que fazem dessa descoberta uma espécie de turismo desportivo rural...
Mas será que elas põem em risco o que habitualmente fazemos nas nossas actividades? Poderão as actividades que costumávamos considerar como 'nossas', estarem a ser utilizadas por outros? Será uma espécie de concorrência?...

De certa forma, elas são o que mais se aproxima ao que muitos consideravam serem coisas de escuteiros... Algumas até as considerávamos 'Actividades típicas'... E vendo assim as coisas talvez fosse razão para estarmos preocupados e descortinar em muitas delas o porquê de vermos cair os números de pioneiros e caminheiros que frequentam os nossos grupos.
Mas não teremos muito mais para dar?...

Não acontecerá que alguns dos escuteiros não estejam a encontrar entre nós as respostas todas que procuram?...

«Baden Powell, não se cansa de repetir em "Escutismo para rapazes" que não dá receitas. E com as actividades dos caminheiros dá-se a mesma coisa. (...)
É bom tudo o que solicita os rapazes e lhes exige esforço: (...) O atletismo, os cross-country também são excelentes desportos, muito indicados para dar estilo e confiança em si próprio.
Mas parece-me que os caminheiros, para não perderem o espírito do Caminho, deviam procurar satisfazer o que os atrai e encontrar ao mesmo tempo, "aquilo que é preciso para mudar o mundo" para dar a algumas das suas actividades uma finalidade que as engrandeça.
O problema que se põe actualmente é o facto de terem caído no domínio público a maior parte das actividades que eram inovação nos caminheiros. Grupos de especialistas atraem os apaixonados da montanha, do esqui e até do campismo.
Uma vez que pode praticar estas actividades fora do Escutismo, é preciso que o caminheiro sinta que no Caminho pode praticá-los num ambiente de amizade quente e de exigência. Exigência na perfeição das técnicas e, ainda mais, exigências espirituais, sentido profundo e sempre revelador da dignidade do homem e do cristão.» [1]

[1] Forestier, M. D. - Pela Educação à Liberdade, Um Caminho - O Escutismo
Foto: castorpioneiro 2010

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