A seguir transcrevo um relato da experiência do Pedro em Taizé.
“Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas, mas uma só é necessária” (Lc 10, 38-42), lembra-lhe Jesus após esta ter repreendido a sua irmã Maria, “a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a Sua palavra”. Aqui em Taizé, de onde escrevo, só há os tempos das orações, das refeições e do recolhimento. A vida de todos os dias ficou lá fora. É a generosidade espontânea das pessoas e a simplicidade dos hábitos que cria uma atmosfera propícia ao encontro de Deus. É assim nos longos recolhimentos, onde na calma buscamos um sentido para a vida, que tantas vezes esquecemos na correria quotidiana; mas também nos grupos multinacionais e nas pessoas com quem falamos e que vimos a descobrir, sempre com grande surpresa, que tem histórias parecidas a contar. Certezas ancoradas na fé, mas também dúvidas e hesitações. Em Taizé, a simplicidade de tudo é tão absurda que nos questionamos porque estamos sempre tão indisponíveis para as coisas que verdadeiramente interessam.
E aqui vejo católicos e protestantes, nórdicos e mediterrânicos, calmos e expansivos. Jovens, essencialmente, e alguns outros mais velhos. Acredito que no meio desta diversidade há algo que nos une. Mais que a crença em Deus – uma busca particular de Deus, e a audácia de acreditar que o Reino dos Céus pode começar aqui, e já hoje. E no imediato começa pelo facto de quase tudo ser feito por voluntários. Qual a instrução que um dos irmãos deu aos contact person, responsáveis por dinamizar os grupos? “Just smile”.
O resto? Disseram-me em tempos que a chuva sabe sempre melhor nos acampamentos, e aqui isso volta a ser verdade e vale para tudo o mais. Frio, comida racionada, etc. etc. Remedeia-se e nem se dá por isso. As recompensas no regresso são bem maiores. E no fim apetece demorar, ficamos com essa imagem de marca lusitana, a saudade, e prometemos a nós mesmos voltar um dia.
No meu caso, tudo isto foi especialmente intenso por vir pela primeira vez, em Semana Santa e afortunadamente com o fabuloso grupo da Pastoral Universitária de Braga, que tive aqui a oportunidade de conhecer.
Por fim, resta fazer eco das palavras do padre Eduardo, quando disse que Taizé não é um destino, mas uma forma de vida. A perda de posição dominante da Igreja é hoje um adquirido, mas não é de forma alguma o fim da história. Taizé lembra-nos que a religião não é algo do passado, de velhos para velhos, mas uma estupenda oportunidade de criar aquilo que Bento XVI chama de minorias criativas, comunidades locais e regionais depositárias da verdadeira esperança e activas no serviço comunitário. São o povo de Deus no século XXI.
Pedro Costa
Estudante de Economia da Universidade do Minho
Abril de 2010
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