Coeducação

Muito se tem falado ultimamente sobre educação... Fala-se da educação que temos, fala-se da educação que damos, fala-se do que é educação... Nunca se falou realmente tanto de educação como hoje. E esse é um sinal, quanto a mim, claro de que realmente não temos a educação - em todos os seus aspectos - que desejamos.
Um tema que é relativamente recente nos meios menos académicos, onde eu, humildemente me incluo, é a coeducação. Talvez seja um termo estranho e até com uma personalidade pouco vincada, pois não tiraremos imediatamente o seu verdadeiro sentido e se não, vejamos, e sugiro esse exercício pessoal... O que é coeducação?

Sim?...

Sem ter, definitivamente, a resposta científica do ponto de vista do seu estudo, para esta pergunta, é normalmente conhecida pela educação colectiva de pessoas (não sei se poderemos generalizar a todos os animais...) de géneros diferentes mas que entendo ser estendida de igual forma a qualquer outro factor de diferenciação entre pessoas.
Todos nós acabamos por estar envolvidos, querendo ou não, nesta acção coeducativa mas nem todos terão dela consciência o que acarreta a respectiva consciência (ou a falta dela) de responsabilização perante ela.
A coeducação, pressupõe, por isso, que haja uma aprendizagem colectiva de uns com os outros baseada na diferenciação física, social, psicológica, emotiva,... dos dois géneros - masculino e feminino.
A importância desta perspectiva ao nível da educação, como acto consciente, é extrema pois toda a acção educativa deve contemplar, patrocinar e afectar o crescimento pessoal das pessoas enquanto seres que vivem em relação tendo em conta as todos os factores que estão associados à diferenciação do géneros. Quando falo em diferenciação, não me refiro, como é obvio, apenas às características físicas, mas também e, talvez até, mais importante do ponto de vista educativo, à distinção psicológica e psíquica, emotiva e afectiva, social e estereotipada que existem associadas a cada um dos géneros. Também não penso estarmos perante uma oposição de características como um Yin Yang que se equilibra mas estabelece nesta visão metafórica oriental uma terceira dimensão que está intimamente relacionada com a relação entre elas.
Posso ainda acrescentar que todas estas considerações aos géneros se podem fazer associando outros aspectos das realidades que distinguem as pessoas como sendo o seu desenvolvimento mental, ou o seu desenvolvimento físico (como é o caso da educação especial).
A coeducação será talvez a harmonização das relações que existem entre características pessoais distintas que por coexistirem se complementam.

O porquê de trazer à tôna da água este assunto. Porque é exactamente quando a chuva é intensa como o tem sido estes dias, que o todo se mistura e se agita e se pode realmente revolver as ideias para esta reflexão de extrema importância para aferir as estruturas que sustentam a educação que prestamos enquanto movimento. A pergunta mais importante que podemos fazer é uma extensão da óbvia "É isto que estamos a fazer?" para algo que nasce antes dela que é a de saber se "Temos condições físicas e humanas para responder a uma efectiva coeducação?"

Sim?...

Falo neste sentido abrangente da coeducação - não apenas a de géneros - que transporta para cada educador, a responsabilidade de estar preparado para responder às solicitações de ordem físico, psicológico, emotivo, etc. etc. que cada pessoa, enquanto ser diferenciada exige - muito mais importante do que como indivíduo, como um ser que é colectivo e se relaciona com os outros. Não se põe em causa que este ou aquele educador não tenha uma experiência de vida que lhe permita lidar com a maioria das situações que lhe são apresentadas (muitas vezes se vêem aos papeis...) mas será que é essa a resposta necessária ou suficiente que é esperada? Estaremos realmente a assegurar uma complementaridade na educação que permita que a complementaridade das relações humanas que se estabelecem seja efectivamente atendida?
A má notícia é que, para este assunto estar a ser estudado e tão estudado, é um sinal evidente que existe um buraco (e, talvez, grande) na efectividade desta coeducação nas nossas comunidades, no nosso envolvente, nas nossas unidades (é claro!) que está por preencher. Muito em resultado de não cumprirmos os requisitos de complementaridade que nos são exigidos quanto às equipas de animação (perfeitamente compreensível dada a falta - ou má distribuição e gestão dos recursos humanos).
Não me parece que mesmo numa razão de complementaridade, estejamos 100% capazes de dar resposta a todos apelos que nos são feitos... Eu não sinto que esteja completamente à altura mas também poucos serão os casos que coneço que oe estejam de facto. Faz parte também, um pouco, das nossas próprias limitações. Errado é pensar que é impossível e que de forma nenhuma isso será possível. Todo este processo faz parte de um crescimento mútuo... diria mesmo, uma coeducação geracional. É talvez este, um dos maiores trunfos do método de B.P.
A boa notícia é que dentro da nossa dinâmica formativa de juventude, devemos usar todos os trunfos a que possamos deitar a mão quando nos vemos mais apertados com as situações que enfrentamos. Os pais, os amigos (nossos), a esposa, a avó, o padrinho, o chefe da secção ao lado,... todos eles poderão estar disponíveis para serem as nossas muletas quando realmente os desafios da coeducação nos transportam para fora da barragens do nosso conhecimento.

A coeducação é um verdadeiro desafio à nossa capacidade formativa de jovens. Quem não trepa, certamente que não cai... mas arrisca-se a morrer à fome.

Image: Hobokencs School

1 comments:

At quarta-feira, 14 fevereiro, 2007 PanteraÁgil said...

Do que mais me lembro do CIP foi uma sessão sobre coeducação. O formador talvez não fosse o melhor (ou não era mesmo). Muito se discutiu e não se chegou a lado nenhum... numa questão que, a meu ver, não tem alternativa possível. Podemos nós viver sem coeducação?! Como é que isso é possível?! Quais as alternativas?! Num movimento como o nosso parece-me óbvio que NÃO HÁ ALTERNATIVA!!! E ainda bem que não há. Ninguém pode formar-se para a vida, como se diz do escutismo, sem coeducação.

 

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