«Evocando mais um aniversário do nascimento do fundador, o tema proposto (a nível de Agrupamento) para as celebrações deste ano foi o ambiente. E enquanto as outras secções se centraram em temas como a reciclagem e o aproveitamento de recursos, o Clã optou por algo mais adequado à sua faixa etária: ‘desenvolvimento sustentável e energias renováveis’. Para isso seguimos em visita às explorações de caulino em Barqueiros (Barcelos) [foto>] e à central marmotriz de Aguçadoura (ainda em fase embrionária) [foto>], e fizemos ainda referência aos campos masseira.
O caulino é uma espécie de barro fino, que se extrai do subsolo a poucos metros de profundidade, muito apreciado no fabrico de porcelanas, e por isso com algum valor de mercado. Na zona podemos encontrar numerosos terrenos de exploração, de variadas dimensões. E falando em caulino, vem imediatamente à memória (pelo menos dos mais velhos) os incidentes ocorridos neste mesmo local há quase duas décadas, à data largamente noticiados na comunicação social. Relembrando o que então aconteceu: as prospecções descobriram que a concentração de caulino era especialmente elevada no centro da localidade, nos terrenos onde fica a igreja, tornando particularmente apetecível a sua exploração. A empresa concorreu ao negócio e convenceu a Câmara, que assim autorizou o avanço das máquinas de demolição. Mas a população insurgiu-se, em defesa dos seus lares, da sua vila e da sua igreja. No dia em que se deveria proceder à demolição, a população juntou-se no meio da estrada e barrou intencionalmente a passagem dos bulldozers, além de terem começado a arremessar as pedras da calçada no intuito de os dissuadir de vez. Dos confrontos com a GNR, que teve de aparecer para sossegar os ânimos, resultou um morto, e depois da polémica assim acirrada a decisão acabou por ser revertida: não chegou a haver demolição alguma. Agora, com nova adjudicação polémica, corre-se o risco de tudo acontecer outra vez.
Este caso (e muitos outros se poderiam arranjar partindo por aí fora …) é justamente um bom exemplo do que não é desenvolvimento sustentável. Destrói-se a vila, escorraçam-se as pessoas … para explorar um minério não-renovável, que passados poucos anos se esgota no local. E depois? O caulino acaba-se, a empresa procura mais verdes pastagens, os empregos desaparecem, o terreno fica desfigurado e inaproveitável e torna-se impossível restabelecer a vida anterior. É um bom negócio, sem dúvida, pelo menos durante alguns anos. Mas não é certamente desenvolvimento.
O desenvolvimento sustentável é aquele cuja finalidade é a satisfação das necessidades do presente, mas sem comprometer as necessidades futuras, impondo limites e regras na utilização dos recursos por forma a não degradar o ambiente nem provocar o seu esgotamento. Quando a qualidade e a sustentabilidade não estão garantidas nem se deveria falar de desenvolvimento. Alcançar o desenvolvimento sustentável não significa deixar de crescer, mas crescer melhor. O que só se consegue com medidas concretas que alterem a forma como se utilizam os recursos e como se aproveitam as oportunidades.
O caso do caulino é exemplo de como o predadorismo do lucro fácil veio invadir a vida tranquila de uma comunidade há muito instalada. Mas é também muito frequente o inverso, ou seja, serem as habitações a invadirem o que não devem – terrenos protegidos ou zonas onde a construção não é viável nem sustentável.
A costa da Apúlia, aqui bem perto, é disso um bom exemplo … nem é preciso falar da costa algarvia. Em tempos bem recentes proliferaram todo o tipo de habitações (incluindo gigantescas torres) ao longo da costa, dunas adentro, muitas coladas ao mar. E o loteamento selvagem onde antes era pinhal praticamente eliminou o verde num sítio outrora densamente arborizado. Casas junto ao mar … tão românticas … e tão instáveis! Passado algum tempo, muitas vezes em vida dos proprietários originais, o mar erode a costa, e com ela os alicerces da casa e a própria casa em seguida. E depois todos clamam ‘aqui d’El Rei’, exigindo ‘indemnizações’ e ‘soluções’. Porque não pensaram nisso antes?
Também o caso das recentes inundações na AM de Lisboa tem muito que ver com isto. A chuva nem sequer foi muita e não durou mais de um dia. A diferença é que a construção e o asfalto por todo o lado não deixam espaço para o solo absorver a água que cai. Mas a água tem de escorrer por algum lado. E aí vai ela, pelas nossas estradas a dentro, alagando pelo caminho os nossos passeios, os nossos carros, os nossos estabelecimentos e as nossas casas. Um bom exemplo de um estrago causado exclusivamente pelo Homem. Ambos os casos são bons exemplos de desenvolvimento insustentável.
O que podemos fazer? Muita coisa. A começar pelas energias renováveis. A maior utilização de energias a partir de fontes renováveis – sol, água, vento, biomassa, geotérmica, etc., em conjunto com uma maior eficiência energética reduziria os níveis de consumo das fontes tradicionais, com a consequente redução das emissões poluentes e dos impactos ambientais, rumo à sustentabilidade das actividades humanas.Outro exemplo é o boicote das iniciativas que agridem o ambiente. Se deixássemos de comprar estas casas, certamente que deixaria de haver interesse em construí-las. E o leque de aplicação deste princípio é vasto.
É certo que não nos compete a nós, individualmente, mudar o mundo. Mas podemos deixá-lo um pouco melhor do que o que encontramos, com atitudes concretas: por exemplo, instalar painéis solares lá em casa, ou aero-turbinas mínimas, que até permitem introduzir o excesso não-consumido na rede eléctrica nacional e receber por watt transferido …Graças à biomassa (aproveitamento de restos animais e vegetais para gerar energia), há quintas que são energeticamente auto-suficientes. Etc., etc., etc.
Como B.P. já nos ensinava na altura, vivemos em fino equilíbrio com a Natureza. Nós, os restantes animais, as plantas, os rios, toda a vida e paisagem na Terra formamos um só elemento, o Ecossistema Terra. Cabe-nos a nós não estragar a nossa própria casa comum.
Alguns comentários...
“Todos, sem excepção, afirmam que é urgente proteger o ambiente, alterando muitas práticas … mas porque não dar o passo seguinte e mudar alguma coisa de facto? Pode começar com coisas tão simples e perfeitamente ao nosso alcance, como acordar um pouco mais cedo que o habitual e ir a pé para o trabalho … para não falar das deslocações de automóvel inúteis que fazemos tantas vezes! Protegemos o ambiente, evitamos stresses e ainda cuidamos da nossa saúde!” Teresa Lino
“Por vezes, as pessoas até tem vontade de fazer alguma coisa, mas tornam-lhes a tarefa muito difícil. Como no meu caso, que tenho os ecopontos muito longe de casa, e torna-se muito pouco prático separar o lixo … se resolvessem estas situações mais pessoas poderiam contribuir para melhorar o ambiente” Cati
“O petróleo também tem muitas vantagens – aliás, é por isso que é utilizado em quase tudo. Não se pode diabolizar tudo o que é ‘energia tradicional’ e endeusar tudo o que é ‘verde’, como muitas vezes fazem os ambientalistas” Filipe
“É preciso ter cuidado com muitos ambientalistas pouco sérios que não raras vezes estão envolvidos numa lógica anti-económica e mesmo anti-social. E também com exemplos de parques eólicos que invadem zonas protegidas e desfiguram a paisagem, criando exactamente o mesmo tipo de pressões de negócio que as ‘energias sujas’ mas que ninguém quer tratar como tal” Pedro
“Consumimos e desperdiçamos tanta coisa de que não necessitamos verdadeiramente … um exemplo simples é a quantidade de sacos de plástico que trazemos do supermercado: se cada pessoa usasse apenas um saco, ou até o trouxesse de casa, a poupança seria brutal. E é impressionante a quantidade de pequenas coisas que podemos fazer e que, afinal, fazem toda a diferença” Bruno
“A força das ondas não serve só para destruir, mas também para iluminar e aquecer as nossas casas. Assim também tudo – incluindo nós próprios e os nossos talentos; tudo pode ser aproveitado em nosso benefício e sem prejudicar a Natureza” Tomé
“A protecção do ambiente tem de se fazer com mais medidas concretas e menos colóquios. Se pretendem que as pessoas comprem carros híbridos, dêem-lhes o incentivo – criem-se tarifas sobre o carbono e/ou deduções fiscais sobre os veículos limpos. Querem menos automóveis nas cidades? Criem um sistema de transportes públicos eficiente, barato, complementar entre si e de acesso universal – coisa que não acontece, por exemplo, no percurso Póvoa-Porto, com um metro lento e um péssimo serviço de autocarros” Pedro
“Renovar não faz parte do futuro mas sim do presente. Por isso devemos começar já!” Cati
“Dar o exemplo, ser diferente e liderar a mudança – temas abordados no último Bivaque de Guias do Agrupamento – também passa por aqui” Samuel
“Tal como, em termos ambientais, os pequenos desequilíbrios se juntam aos grandes e degradam a situação, também as boas práticas individuais, se imitadas, transformam-se em grandes soluções para os problemas” Samuel
“Um pequeno esforço hoje faz uma grande diferença amanhã!” Excerto de um conhecido anúncio televisivo»
image: Scoutimage
Marcadores: actividades, Ambiente
1 comments:
- At terça-feira, 11 março, 2008 PanteraÁgil said...
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Desenvolvimento sustentável, ambiente, progresso,... cada vez mais são termos associados e em constante divulgação, discussão,...
O Homem esquece-se que na Natureza tudo tem o seu papel, a sua tarefa, a sua FUNÇÃO. É um SISTEMA DE PATRULHAS na sua perfeição extrema. Quando se altera alguma destas tarefas, a Natureza ressente-se e descontrola-se porque um dos seus ELEMENTOS não consegue mais cumprir a sua FUNÇÃO porque o Homem a impossibilitou. E, pior que isso, normalmente as soluções do "desenrasca" são mais prejudiciais do que as próprias acções.
É importante deixarmos de ter a ganância do querer cada vez mais sem olhar a meios e ponderar muito bem todos os atentados à Mãe Natureza. Se alguns são necessário e, irremediavelmente, terão de ser compensados, outros há que são de uma inutilidade extrema....
É importante garantir a sustentabilidade do Planeta e a sua permanente habitabilidade.